sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO

O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO
Problema Policial de J.ARTUR

Seriam aproximadamente três horas, naquela madrugada quente de um sábada de Agosto, quando o telefone tocou, na sala da direcção do CLUBE DO ARANHIÇO, onde nos encontrávamos a preparar os artigos para o "ARACNÍDEO" do mês imediato.
Marcos Dias, que ocupava a secretária onde o telefone se encontrava, atendeu o aparelho, com o qual estabeleceu um breve diálogo, ao mesmo tempo que se levantava, dirigindo-me olhares e trejeitos que denunciavam a comunicação duma tragédia.
Momentoss depois, circulávamos velozmente a caminho do Gabinete de projectos onde o crime fora praticado.
o O o O o O o
A vítima, o Engº. Alfredo Maia, encontrava-se tombada, com a parte inferior do abdómen apoiada sobre o braço esquerdo de um sofá, e a cabeça encostada a uma perna da mesa do computador, cujo monitor tinha sido estilhaçado. Na sua mão esquerda, ensanguentada, manchando a alcatifa, encontrava-se uma pequena máquina de calcular, agarrada de forma invertida, com o visor voltado para o chão. Marcos Dias confirmou que o homem estava morto, como aliás já lhe haviam dito pelo telefone, e, observando a pistola abandonada sobre uma das mesas, incumbiu-me de ir chamar a Polícia Judiciária.
o O o O o
Após a primeira vistoria do local, feita pelo inspector Sequeira, os técnicos de investigação tiraram fotografias, procuraram eventuais impressões digitais ou quaisquer outros vestígios denunciantes, marcaram a giz a localização do corpo, da arma, da calculadora, das duas cápsulas de balas encontradas no local, do telefone arrancado da ligação, e só então o médico legista e o inspector alteraram a posição do cadáver, retirando-lhe da mão a pequena máquina didital.
Enquanto o Dr. Asdrúbal examinava as feridas, através da camisa abundantemente ensanguentada, e colhida a temperatura do corpo, para avaliar a hora aproximada do crime, o inspector, lançando um olhar de entendido ao estofo do sofá inutilizado pelo sangue, recolhendo a calculadora numa saqueta de plástico, tal como fizera à pistola, anotou mentalmente o número que ali se encontrava escrito: trinta e sete, ponto, zero, quinze, cento e setenta e três.
o O o O o O o
Entretanto, Marcos Dias e eu reuníramos noutra sala todo o pessoal do Gabinete de Projectos, que os agentes do piquete haviam ido buscar às respectivas residências, indicadas pelo Abílio Pinho, o nosso amigo engenheiro que tinha telefonado a solicitar a nossa ajuda.
A Zulmira Cardoso, desenhadora, chorando inconsoladamente, disse que tinha ido jantar com a vítima, e que voltaram para o escritório cerca das vinte e duas horas, tendo estado a acabar um trabalho urgente, até à meia noite e meia hora, e fora o Eng.º Elísio Lé quem a levara a casa, pois moravam ambos na mesma zona da cidade.
O Eng. Elísio Lé, confirmando as declarações da jóvem, disse que chegara ao seu apartamento cerca da uma hora da madrugada, e adiantou que antes de sair com a Zulmira se tinha ido despedir do colega Maia, encontrando-o na companhia do Eng. José Amén. Este dissera-lhe que tinha o seu trabalho quase pronto, e que se retiraria daí a meia hora. Porém, o Alfredo Maia dissera que tinha ainda o trabalho muito atrasado e que só se iria embora lá para as cinco ou seis, quando concluísse os cálculos que estava a elaborar.
O Eng. Amén corroborou as afirmações do Elísio, e disse que, na realidade, tinha abandonado o escritório à uma hora da manhã, deixando o Alfredo Maia sòzinho no gabinete.
Abílio Pinho, disse que chegara da sua deslocação a Bragança, onde fora fiscalizar uma obra, cerca da uma e meia da manhã, e que pouco depois telefonara para casa do Amén, sabendo por este que o Maia ainda ficara no escritório, e que certamente se manteria ali quase toda a noite. Tomou um duche, comeu alguma coisa e bebeu uma cerveja, e cerca das duas e meia ligou para o escritório, mas o telefone emitia um sinal estranho, que ele não soubera identificar se estava inacessível ou em comunicação. Como já tencionava ir ao Gabinete para fazer o relatório da viagem, dirigiu-se para ali. Estranhou encontrar tudo aberto, e ficou estarrecido quando viu o estado em que se encontrava o amigo, com tanto sangue perdido no estofo do sofá. Verificou se ainda teria sinais de vida, mas ao certificar-se de que ele estava morto, dirigiu-se ao telefone para pedir ajuda ao Marcos Dias, que além de bom amigo era assessor jurídico da empresa, mas ao ver o telefone no chão, arrancado da linha, foi a uma cabine pública ligar para casa do criminologista, donde lhe deram o número do Clube do Aranhiço.
o O o O o O o
A meio da manhã, após algumas horas de intenso trabalho, o inspector Sequeira reuniu-nos no seu gabinete. Quando ali cheguei, na companhia do Marcos Dias, já lá estavam todos os companheiros da vítima.
- Meus senhores - começou o inspector - todos sos vossos depoimentos esão correctos, e já foram investigados. Há, porém, algo que quero adiantar. O eng. aia foi assassinado próximo da uma hora e meia da noite, segundo as conclusões do Dr. Asdrúbal, e foi atingido por dois tiros, cujos projeteis se alojaram no estômago e num pulmão, provocando-lhe a morte, que terá ocorrido à volta das duas horas, em consequência da abundante perda de sangue.
O inspector fez uma ligeira pausa, olhou os circunstantes e prosseguiu:
- A vítima, sem dúvida apercebeu-se do ataque e reconheceu o assassino, que o deixou ainda com vida, porque a pistola se encravara tendo ainda três balas no carregador. O assa ssino ter-se-á retirado apressadamente do local, consciente de que a sua vítima não sobreviveria aos ferimentos. Assim, para evitar possíveis pedidos de socorro ou tentativas de emissão de quaisquer mensagens, o criminoso teve o cuidado de inutilizar o telefone, destruir o computador e fazer desaparecer do alcance da moribundo os utensílios de escrita. Este, porém, ao aperceber-se que a morte se aproximava, numa tentativa de que o assassino não ficasse impune...
- o - o - o - o -
Bom!... Terminemos por aqui a descrição do caso, pois já está suficientemente exposta a organização do processo. Na realidade, as conclusões do inspector eram integralmente partilhadas por mim e por Marcos Dias, e um dos intervenientes no caso transitou dali para os calabouços, até que o caso fosse julgado em Tribunal.

PERGUNTA-SE:
- Quem matou o Alfredo Maia?
- Que pormenor, ou pormenores, denunciaram o criminoso?
- Como lhe parece que o caso se terá passado?
Apresente um relatório circunstanciado, já que a sua colaboração lhe proporcionará um interessante exercício literário, intelectual e raciocinativo.

Publicado na secção "MISTÉRIO E AVENTURA" do jornal "O CRIME", em 7 . Maio .1993
Incluido no TORNEIO "PRODUÇÃO-93" - Problema B Nº 6
x x x x x x x x x

Solução do problema policial
O CASO DO COMPUTADOR PARTIDO
apresentada pelo autor: JARTUR

O indivíduo assassinado, ao sentir a chegada da morte, pretendeu denunciar o criminoso. Este, porém, tentara impedir o contacto da vítima com o exterior, motivo porque fizera desaparecer os utensílios de escrita, partira o computador e inutilizara o telefone.
O Alfredo Maia, porém, retira do bolso a sua pequena calculadora, e introduziu-lhe um número que lido de forma invertida, como sugeria a maneira como a máquina estava sujeita à mão do defunto, indicava o nome do criminoso.
O número em questão era: 37. 015173
Como é do conhecimento geral, os caracteres das calculadoras tem uma configuração normalizada, e aquele número, lido com o visor invertido, revelava nitidamente o nome de: ELISIO'LE
Analisados os depoimentos,nota-se que o engenheiro Elisio Lé sabia que o Alfredo Maia ficaria sòzinho após a saída do engenheiro Amén, e então ter-lhe-ía sido fácil, depois de deixar a Zulmira em casa, voltar ao gabinete para concretizar o crime.
Para além dos pormenores referenciados, ficaram expostos, no texto do problema, outros elementos susceptíveis de permitir, aos solucionistas, valorizar, com outras observações, a lógica da sua exposição.

Sem comentários: